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Pesquisa destaca luta compartilhada por mulheres indígenas e quebradeiras de coco babaçu Akroá Gamella

O trabalho se estruturou a partir da relação construída pela pesquisadora com o território, iniciada antes mesmo do mestrado, por meio da qual foi ...

23/07/2024 às 17h10
Por: Redação Fonte: Secom Maranhão
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Foto: Reprodução/Secom Maranhão
Foto: Reprodução/Secom Maranhão

Evidenciar a luta compartilhada por mulheres indígenas e quebradeiras de coco babaçu do território Taquaritiua, no município de Viana/Maranhão, analisando e descrevendo seus processos de lutas e organização junto ao seu povo, como também as práticas de produção e retomadas dos territórios para preservação ambiental. Esse é o objetivo da pesquisa “COCO E COCAR: lutas, resistências e identidades compartilhadas das indígenas e quebradeiras de coco Akroá Gamella em Viana, Maranhão” de Ariana Gomes da Silva, que teve a orientação da Profa. Dra. Helciane de Fátima Abreu Araújo, fruto do Mestrado em Cartografia Social e Política da Amazônia pela Universidade Estadual do Maranhão.

O trabalho se estruturou a partir da relação construída pela pesquisadora com o território, iniciada antes mesmo do mestrado, por meio da qual foi possível apreender relatos e informações. Além de ser filha de quebradeira de coco babaçu, ela foi assessora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), em 2010. Essa vivência possibilitou acompanhar junto aos Akroá Gamella, um momento de crescente violência contra eles por parte de antagonistas nas diversas instâncias, que estruturam e fortalecem o racismo, negligências e tentativas de desumanização.

Ariana destacou que a pesquisa surgiu a partir de inquietações das indígenas quebradeiras de coco. “É com o olhar voltado às indígenas quebradeiras de coco, através das vivências e relações construídas desde 2010, que pude observar e vivenciar a luta delas pelo direito ao território e aos babaçuais. Uma inquietação que não é somente minha como pesquisadora, mas também delas”, disse ela.

De acordo com a pesquisadora, durante a pesquisa foi observada que a luta compartilhada com aliados se fortalece após um período de silenciamento (forçado) de uma identidade étnica, evidenciando a resistência travada para manutenção das vidas que permanecem nesse território ancestral desde a segunda metade do século XVIII, mas cuja extinção foi decretada pelo Estado brasileiro.

O trabalho de pesquisa aponta a existência de uma forte mobilização política, são 22 aldeias, até este momento, que se interligam pelo uso tradicional do território. “A prática da coleta do coco babaçu, dos guarimanzais, da juçara, a pesca, a roça, as práticas culturais e espirituais acontecem e são fundamentais para a existência desse povo. Há relações construídas, práticas produtivas e organização que dão força e formam esse grande território que deverá ser demarcado pela FUNAI. Além disso, há situações de violência vivenciada pelos Akroá Gamella, os estigmas, o racismo, as negligências e as tentativas de desumanização a esses corpos têm sido constantes, sendo necessárias medidas por parte do Estado para cessá-las, sobretudo dos corpos das mulheres que sofrem duplamente”, destacou.

Ela, ainda, complementou: “ao mesmo tempo, essa pesquisa reflete o papel do antropólogo. O fazer pesquisa nesse contexto de violência aponta cada vez mais para a necessidade de estarmos conscientes do tipo de antropologia que queremos desenvolver”.

O que ela obteve de aprendizado? Ariana deixou claro que “foi perceber as mulheres como o centro de um processo de luta por território, por babaçual, entendendo que elas, que têm múltiplas identidades, identidade étnicas, como quebradeira de coco, como indígenas, lutam desde sempre por esse cuidado do território, por esse acesso aos babaçuais, e que muitas vezes são invisibilizadas quando se trata de luta por terra ou por território”.

A Profa. Helciane ressaltou que a pesquisa conjuga a nova cartografia social com a antropologia e a política para mostrar especificidades dessas resistências em tempos contemporâneos, que podem ser consideradas desdobramentos de um longo processo que, conforme apontam os primeiros estudos acadêmicos, vem dos anos de 1713, com registros das andanças e enfrentamentos ao processo de colonização. “Em sua etnografia, Ariana traz aspectos da cultura dos Akroá Gamella que persistem, apesar de toda a pressão e violência do Estado, por meio de seus atos e aparatos, sobre este povo. A pesquisa é sem dúvida uma grande contribuição para a construção da história política do estado do Maranhão”, frisou.

Prêmio Uema de Teses e Dissertações
A pesquisa foi uma das premiadas no VII Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações da Uema.

Ariana comentou sobre sua surpresa e emoção ao ganhar o prêmio: “Uma quebradeira de coco, que veio de comunidade tradicional, chegar ao mestrado, tendo tantos desafios de ser mãe, dona de casa, trabalhar e, ao mesmo tempo, fazer pesquisa. Não é fácil. Então, eu fiquei surpresa. Eu não esperava que pudesse ser premiada e acho que é super importante para quem vem de comunidade tradicional receber um reconhecimento, que não é somente meu por ter feito a pesquisa e a escrita, mas acho que é um reconhecimento da luta das mulheres indígenas quebradeiras de coco Akroá Gamella. Esse prêmio também é de muitas pessoas, e eu simplesmente vou receber por ter escrito, por ter traduzido muitos sentimentos de algumas delas. E, também, é importante esse reconhecimento para o próprio programa pela excelência de ensino, pelo compromisso dos pesquisadores e professores que fazem parte dele”.

Para a Profa. Helciane, o momento vai além da premiação. Ela focou a importância da dissertação em questão. “A premiação e dissertação de Ariana é de extrema importância para o povo Akroá Gamella, considerando a contribuição da pesquisa para a construção da memória de suas lutas e resistências, a partir da perspectiva das mulheres indígenas quebradeiras de coco babaçu”, ressaltou.

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